Aqui não tem mocinho!
Não sou nada de bom!
Escolhi o mal e meu único amor é a perversão.
Prefiro ser cruel e desumano.
Desejo a alcunha de grande vilão profano.
Aqui não tem bondade, não tem amor, nem tão pouco caridade.
Dedico minha vida à prática das mais infames atrocidades.
Regozijo com brutalidade, o massacre e todos os atos mais vis e covardes.
Sou ruim, cultuo a desgraça e transpiro infelicidade que fere, machuca e mata a falácia da tal bondade.
Não sigo as regras em moda nessa patética e fraca sociedade já completamente morta.
Nos meus olhos, tenho apenas fúria em chamas.
Nas minhas mãos, empunho artefatos que tiram lágrimas e expõem nervos e toda a carne que sangra.
Tenho ereções com a crueldade que recheia minha visão insana de vilão.
Mocinhos são fantoches.
Vilões são os tiranos e, sim, são seus algozes.
Cuspo nas regras sociais, seguidas por pseudo mocinhos, hipócritas, narcisistas, babacas e imorais.
Sou o que sou.
Não tenho raça, gênero ou cor.
Sou o que sou.
O mal, a fúria e o eterno rancor.
Sou o que sou.
Existem muitos de mim.
As portas fechadas, os cadeados trancados, as armas disparadas, as bombas explodidas e as prisões vigiadas.
São monumentos a minha existência, minha saga amaldiçoada.
Não importa se és homem, mulher, criança, velho ou aleijado.
Se cruzar meu caminho, serás despedaçado.
Sou o que sou.
A chama se apaga quando minha existência acaba.
Sou o que sou.
Mais uma estrela explode entre milhões de galáxias.
Sou o que sou.
A morte do vilão é anunciada pela boca do mocinho com gosto de vitória.
Daqui a um terço de segundo, um choro de bebê, comemorado ou odiado, anuncia que o vilão está de volta ao jogo e vai causar estrago.
Sou o que sou.
A vida celebrada hoje.
A morte chorada agora.
O véu da viúva fingindo que chora.
O mantra bizarro de despedida, com beijos e lágrimas falidas na carne morta, fétida, apodrecendo ou apodrecida, devidamente encaixotada para a boca faminta da terra que irá mastigá-la e engoli-la.
O prego no caixão que fecha a "última porta".
Mas sendo quem sou, entendo, compreendo e sei que pecado jamais sai de moda e ninguém sabe o que é de fato o amor, o bem desejado e a beleza da flor.
Talvez os ratos nasçam para procriar e pragas espalhar.
Talvez os vermes existam para cadáveres habitar e devorar.
Os mocinhos são a mentirosa afirmação da praga de ratos que sucumbiu no porão, onde se escondem os sentimentos mais puros do grande vilão.
*Alexandre Chakal é carioca, publicitário, jornalista independente, musicista, escritor, poeta, locutor freelancer, zineiro, editor do blog Metal Reunion Zine à 15 anos. Um eterno inconformado com o cenário social e as péssimas gestões políticas do país mais rico da America Latina.
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