Por: Robisson Sete
O corpo torto de Anísio Teixeira, morto,
no fundo do fosso do elevador.
Marighela abatido a tiros, olha o brilho escuro da luz da lua,
como se fosse a última vez.
Dandara acorrentada aos pés de um senhor de escravos,
seus dentes quebrados para que nunca mais sorria.
O véu de Dorothy Stang, coberto de sangue e formigas amazônicas
no interior do Pará.
A cabeça de Lampião, separada do corpo, exposta na feira de Caruaru,
em meio às moscas e a carne seca.
As costas lanhadas de Cláudia esfoladas pelo asfalto, sua pele arrancada
atrapalhando o trânsito.
Oitenta tiros de fuzil no bairro de Guadalupe, contra um carro repleto de negros,
apenas uma família.
Dandara dos Santos, morta a pauladas, carregada em um carrinho de mão
para dentro do caos e do esgoto a céu aberto.
Cento e onze homens sangrados em celas escuras e úmidas
de um Brazyl Carandiru.
Quatro balas põem fim à futura Senadora da República,
negra e lésbica, nas ruas do Rio de Janeiro.
Todos os indígenas mortos, todos.
A saudade, dos tantos Amarildos,
que nunca passa.
E na foto,
a cabeça de Herzog, penderá para sempre,
à nossa direita,
para que nunca esqueçamos.
***
Poema que consta no zine BLASFEMO número 2 editado por Diego El Khouri.
Título: Blasfemo nr. 2
Editor: Diego El Khouri
Formato: 14 x 21 cm
Páginas: 12
Arte da Capa: Diego El Khouri
Gênero: Zine
Ano: 2022
Para ler o zine na íntegra: https://issuu.com/editoramerdanamao/docs/zine_blasfemo_nr_2
Interessados no zine impresso: editoramerdanamao@yahoo.com
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