quinta-feira, 1 de junho de 2023

Mais alguns escritos FSB


 A história da mola

 

E quando os sedativos acabarem

e a realidade vomitar em sua cara

tudo o que acontece

neste mundo a sua volta

como um soco em seu nariz

e já não consegui fingir

que não tem nada a ver com isso

mesmo que aperte os olhos

e tape os ouvidos com toda a força

você já não é mais

capaz

e a mentira já não pode mais te proteger

O medo consumindo

até não sobrar outra opção

reação

Nenhuma decisão é fácil

mas algumas são inevitáveis



Apenas um momento

 

uma fração de milésimos

Uma fatia da madrugada

Tempo de silêncio total

O anúncio do fim do escuro

 

Estava trabalhando

 

Todo mundo parecia dormir

menos Aretuza

Esta já tinha feito de tudo

e procurava mais alguma coisa

para poder inventar



Coisa ruim

 

Caminhando descalço

pelos desertos escaldantes

cozinhando as solas dos pés

que já são tiras de bacon

bem passadas

em más passagens

em maus bocados

 

Tropeça apenas

em latões vazios

como seu interior

de onde já sai o zumbido

do oco recheado de coisa alguma

como aqueles casulos que jazem

secos e cobertos de imundícies

 

Não se sabe de onde vem

tanta sujeira a nos inundar

nesta solidão sem fim

que tem origem na incompreensão

ou na glândula biliar de algum demônio

responsável por nos impor

tristezas e suplícios devastadores até para o maior masoquista que se teve notícias



Criaturas inconformadas

 

O seu horror pra mim

é tudo de mais belo

Não canso de admirar

O que lhe causa espanto

 

Mas a vida é mesmo assim

cada um do seu jeito

mesmo que alguns

não sejam de jeito nenhum

 

Já não acredito mais que tudo seja assim

E esse cansaço mórbido

implorando pelo fim

no suspiro final com vestido de cetim

 

Nem sei porque penso essas coisas

Nada disso faz sentido

Está além do meu controle

Conviver com tantas dores

 

Não sei pra onde vou

nem muito bem quem sou

Respostas não existem

As mentiras prevalecem

 

Pensamos em um plano extremo

Provocar um colapso sistêmico

Que apodreça as engrenagens

e derrube as paredes

 

Me perguntam por que sou

Respondo porque quero

Prefiro um jeito que não seja o seu

Dar uma cabeçada na parede não é tão ruim quanto parece

 

E o cheiro dos tiros e bombas

já criaram seus sabores

Meu corpo foi atingido

pelos que defendem os senhores

 

E agora é o gosto de sangue

E o corpo não se move

Tudo isso pra neutralizar

outra terrível ameaça

 

Mas em nosso querido covil

estamos reproduzindo ideias

Ampliando o questionamento

Proliferando toda dúvida



A história de mais um

 

Acreditando em nada

Não conseguia escolher qual mentira seguir

Sem desejo de participar

Não conseguia sentir, ser ou estar

Sem cura para quem conseguiu perceber a farsa que sustenta este jogo de cartas marcadas

Não havia tratamento que o ensinasse a deixar de ver o que está a sua frente

 

Fingir ser forte só para causar boa impressão

Fingir ter fé só para encurtar o sermão

Fingir que a família vai bem só para retardar o fim do que se desintegra

Fingir que ainda existe para se camuflar entre os que seguem a regra

 

Tentou o médico mas só o que conseguiu foi aumentar seu tédio

Foi em algumas religiões mas nenhuma conseguiu o embalar ao som das suas enganações

 

Cada vez mais as coisas faziam menos sentido



Ele não queria estar dentro

 

Não tinha redes sociais

Nunca usou pix ou uber

Aplicativo era uma palavra repulsiva

Estava completamente fora

desse mundo

de “facilidades” que escravizam,

esvaziam, limitam e controlam

Sempre se negou a fazer parte

Agora mais que nunca



O rebelde das letras

 

Não acreditava nas rimas

Mandou as redondilhas a merda

Não tinha paciência pra métrica

A tradição e antigas formas

lhe pareciam algo mais que chato

Brincava com as letras do seu jeito

mesmo desagradando aos que decoravam

 toda aquela inutilidade de regras

Por mais que torcessem o nariz para sua produção

que era bom

era



Sobre aquilo que estávamos conversando ontem

 

Não acreditamos

na sua conduta e moral

Estamos caminhando

na contramão do seu normal

para destruir o seu ideal

hipócrita e limitado

 

Podem prender

Podem bater

Podem nos matar de fome e sede

Sem um troco pra tomar

aquela da parede

 

Podem ignorar

Podem criticar

Podem torturar e esquartejar

que não conseguiremos

deixar de ser

aquilo que somos



Tapete de farpas

 

Triste coisa é sofrer

dos males do coração

Desatina o sentir

Desorienta a razão

 

O peito sangra

e nem consigo perceber

A vida é dura

e se joguei foi pra perder

 

Já desisti até de sofrer

Quero me esquecer

             me enlouquecer

             me entorpecer

 

              Desaparecer



Tentando me refugiar onde não existe para ver se consigo me livrar

 

Quanta frustração

e melancolia

temperados com angústias e aflições

 

E ainda dizem que a culpa é sua

como se fosse uma questão de escolha

submersa neste fluxo em descontrole

 

Mas o tédio

e o desespero 

mantém este desagradável cheiro

 

E você nunca será bem recebido

como aquela visita esperada

já que de seu corpo exala a fragrância errada

 

Tudo o que você falar

será considerada a mais pura besteira

já que a lógica imposta diz que você está sempre errado

 

O jeito é se afastar

sem nenhum humano encontrar

seria uma boa saída para deixar de atrapalhar

 

Mesmo não querendo sua companhia

eles vão aparecer para azucrinar

dando bom dia e dizendo querer ajudar

 

Que profunda e desagradável agonia

elevando ao máximo

seu nível de melancolia

 

Já que nem ao menos consigo me exilar

pegarei a vida e darei uma encarada em seus olhos sarcásticos

a sacudirei pelos ombros e gritarei basta

 

BASTA!!!!



Turbulência crítica

 

Os planos deram errado

e tudo o mais rompeu-se em escombros

diante da sua figura

Resta apenas o nada como trunfo

pois o curinga já foi decapitado

sob as leis que mantém tudo em seu devido lugar

 

Quando você olhar em volta

pesquisando cada centímetro cúbico

não vai encontrar as saídas cuidadosamente camufladas

Portas abertas apenas para alguns

bem nascidos

ou conhecidos de seu Fulano ou Beltrano

 

Com isso lhe resta a miséria

que o conduzirá rapidamente até este triste e amargo fim

coberto de desgosto e infelicidade

Não se sabe se é praga ou vítima de aparição

coisa de azar ou maldição

estarmos sendo aniquilados com a benção da indiferença

 

E assim segue o desastre

de geração em geração

sem saber para onde ir

Caminhando como cegos em tiroteios

sentindo o corpo se dissolver

ou correndo sem direção



Um misantropo hediondo por natureza

 

A solidão preenchendo

um ser tão vazio

quanto a existência

Um peito seco

rachado como a sola do pé

ou um solo árido

Não se sentia bem em grupos

ou se enquadrando em qualquer opção

Não sustentava rótulos

ou tinha convicções

Sozinho chegou

e mais sozinho ainda se foi



Por Fabio da Silva Barbosa


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