Ricardo Mendes participou de várias iniciativas da Editora Merda na Mão. Sempre buscando se inteirar e participar de ideias realmente combativas e autênticas, produziu a série de vídeos Transgressão Poética para o canal do youtubo digestivo da EMNM, onde fazia suas inesquecíveis e impactantes performances de suas poesias/crônicas... ou como queiram chamar. Ele era único em sua forma de se expressar, talvez por nunca ter procurado ser uma imitação, mera cópia. Ele queria ser ele mesmo, vomitar o que causava indigestão e mau estar. Dissecava essa sociedade doente sem poupar ninguém. Com isso não participava de panelinhas ou passava a mão na cabeça de quem usava o rótulo A ou B. Transitava livremente pela fauna urbana, sempre com seu olhar crítico e contundente. Cortante como uma navalha, por vezes obscuro, mas conservando seu lado doce e amoroso. Era a verdadeira prova que o ser humano é multifacetado. O mesmo cara que conseguia ser meigo, estava pronto para a guerra. Observava os pontos mais profundos das questões e, com isso, muitas vezes era tido como inconveniente pelos que gostavam de boiar na superfície como cagalhões em alto mar. Suas entrevistas para o Deu Merda, no youtubo da Editora e para o Aleluia Nunca Mais, programa de rádio da Merda na Mão que rolava na Rádio Rota 220, tiveram momentos memoráveis e que, com certeza, encontram-se encrustados nas mentes dos que puderam curtir estas pérolas rolando.
Relendo o conteúdo desta postagem, me chama a atenção a mania que temos de por no passado mesmo os que continuarão vivos. Afinal, quem deixa uma obra, história e memória como este mano deixou, estará sempre presente.
A presença física se foi, os encontros pessoalmente e os momentos de abraços e empurrões, mas ideia continuará rolando, fazendo a permanente presença incomodar aos acomodados.
Dos amigos da Editora Merda na Mão
"Não recordo como nos conhecemos naqueles loucos finais dos anos 80, mas lembro perfeitamente quando nos reencontramos um tempo depois nas aulas de Atma Vidya (não lembro bem se era assim que escrevia o nome), de Marco Natali, e de Vajramushti, do Geraldo. Lembramos um do outro e das peripécias passadas. Ali também conheci outras pessoas com quem mais tarde pude compartilhar outras ideias e desenvolver projetos. Entre estes estava Alexandre Mendes, irmão de Ricardo, que a Editora Merda na Mão, fundada por mim e pelo parceiro de produções Diego El Khouri, lançou o livro póstumo Cavidade. Mas voltando ao Ricardo, tivemos vários encontros e reencontros pela vida e posso dizer que tínhamos muito mais discordâncias que concordâncias em determinados pontos, mas o que unia era o inconformismo, o pensamento crítico e a falta de vontade de aderir a modelos prontos e discursos pré fabricados. Depois de um dos muitos hiatos que tínhamos sem nos comunicar, me deparei com Niuza, uma verdadeira obra de arte que só poderia ter saído daquela cabeça em ebulição que explodia sobre o pescoço de Ricardo. Restabelecemos contato e começamos a interagir nossas iniciativas e ideias como nos velhos tempos. Talvez até de forma mais intensa e profícua. Soube então que ele se foi fisicamente nesta madrugada que passou e que seu velório seria hoje, mas logo me veio o consolo de que suas palavras continuarão entre nós, mantendo viva sua chama acesa, mesmo entre os que não o conheceram pessoalmente para também carregar a memória de momentos únicos e fascinantes."
Fabio da Silva Barbosa
zine Reboco Caído e Editora Merda na Mão
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