sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Feito para o momento

Comendo produtos enlatados

ou o que tem de mais barato no mercado

algo que fique pronto rápido e não demande sacrifícios

algo que não agrida a minha depressão

que dificulta movimentos naturais para muitos

ou que não danifique o tédio 

que impossibilita que desgrude 

meu fedor desagradável 

do leito fúnebre


Porque não promover uma alimentação saudável

que não esteja na mão dos que enriquecem com o câncer

entre outras doenças?

Porque não sou agricultor

Não tenho esta bela habilidade

Porque não tenho mais forças

Não consigo continuar

Porque meu sono é um horror

Minhas lágrimas denigrem minha carne

como ácido sulfúrico corroendo as camadas da epiderme 

Porque me debato contra a parede chapiscada

vendo o sangue tingir a pele esfolada

sem acreditar em nada belo ou santo

sem perceber nada que venha de bom no termo humano

como bolas de tumor vendidas no espetinho

de uma praça florida

cheia de famílias felizes

que não percebem a desintegração de uma mentira cuidadosamente elaborada

pelos malditos seres inescrupulosos

que comem vísceras de crianças indefesas

cobradas pelo resto da vida

pela desgraça que lhes foi imposta

como algo muito natural

e o molho pré fabricado

tão gorduroso quando a diarreia bizarra que sai do meu cu

ofendendo a hemorroida que lateja

transformando o mais simples ato em um sofrimento incalculável

E as tormentas que convertem a existência em chicotadas desgraçadas

dolorosas e latejantes

como a dor da morte que parece ser maior que tudo

até mesmo que o verdadeiro fim

que pode vir de muitas formas

desde suspiros imperceptíveis

até agonias infinitas

ou o pulmão apodrecido pelo cigarro da propaganda que mostrava um cara escalando uma montanha

e a felicidade carcomida que cai em grãos 

como a ferrugem ou a erosão

Não vendo sentido no discurso puro e cadavérico

que acomoda e imobiliza

tentando vender a bondade e o amor como algo próprio de uma natureza fria e cruel

fazendo o apresentador de domingo soltar uma gargalhada hipócrita, mentirosa, calamitosa


Estamos sozinhos em nossas tormentas incalculáveis

Estamos representando absurdos incentivados

Estamos mesmo não estando

 Somos seres inflamáveis (em todos os sentidos)


Por uma criatura hedionda 

para a Editora Merda na Mão

*Sem exemplo ou sentimentos nobres

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