Conto que abrirá Fábrica de Cadáveres - Do forno ao moedor, novo livro de Fabio da Silva Barbosa.
Em breve, pela Editora Merda na Mão
causa mortis
Não sei se foi o frio, o cansaço, ou algo que
o devorava por dentro, mas aquela noite estava o próprio gelo. O vento cortava,
entrando por sua roupa. Parecia estar nu. Andava ziguezagueando pela calçada.
Os braços cruzados, bem apertados contra o corpo curvado, todo encolhido. Não
sabia se era pior o frio da madrugada ou da solidão, a fome de comida ou de
existir, a sede de água ou de viver. Não lembrava a última vez que tinha
comido, dormido ou bebido. Só podia andar daquele jeito estranho, tentando não
congelar. Dia e noite = andar e andar. As casas trancadas, nenhuma janela
aberta. Passou por um prédio com uma luz acesa no primeiro andar. Mesmo com a
janela fechada, podia ouvir vozes e risadas. Devia ser uma festa.Comida e tudo.
Deviam ter aquecedor. Parou para apreciar um pouco, mas logo o frio pôs
novamente suas pernas em movimento. Tentava dobrar ao máximo os joelhos para
dar passos altos. Era quase uma dança macabra daquele corpo esquelético coberto
por trapos.
No dia seguinte encontraram seu cadáver
estendido sobre sacos de lixo. Motivo da morte? Ninguém sabe se foi o frio, o
cansaço ou algo que o devorava por dentro.
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