segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Uma viagem de ácido

 Por: Nikkole Presotto


queimamos como a brasa consome o cigarro

fodendo e ardendo

serpenteio por entre nossa porra e sangue jovens

A  cobra dourada, rastejando através do pantano cósmico do infinito

enquanto a grande abelha santa poliniza nossa carne exposta

Que brotando em flores assimétricas derrama a seiva de nossa efêmera existência pelo bosque mágico 

O coração do tigre na bandeja dourada

Parasitas cerebrais,  serpentes negras ziguezagueando dentro do crânio plástico 

Uivo para cidade, a besta está solta, não tem pra onde fugir

Feras correm livres pelas ruas tortas, o sangue espesso, escorregadio, me entregue seu coração! 

A hora da magia, sonhando acordada retorcendo-me entre os lençóis, dolorosa libertação

Rasgando-me a pele, metamorfoseada no terrível inseto gigante, o poderoso bater de suas asas magistrais, o  zumbido elétrico põe meu mundo a vibrar

Passado esquecido, senso de identidade perdido

Tornei-me um enorme réptil, lagarto pesado, debaixo do sol, meus braços dissolvem, minhas pernas extintas

sou a serpente infinita trocando de pele, em feras e quimeras 

nossos espíritos  misturados ao vermelho luar na calma da noite gentil

Insanidade!

Dançam os espíritos 

Fodendo com fantasmas, cara.

Nas nuvens quadriculadas

Do alto da pirâmide dourada.                           Da terra sagrada 

Vamos ser outras pessoas

Outras coisas

Correndo, enquanto helicópteros sobrevoam nossas cabeças misturadas

e cheias de ácido

Um apolo em couro negro, derretendo em arco-íris 

Pau musical

Gozo espectral


gritem nossos nomes!          Gritem nossos nomes!

Sol! Sol! Sol!

E que venha a Lua! sorrindo nua

Na noite crua!

A passagem

através

do deleite

do gozo

da dor!                       somos demônios!     anjos tentando gozar

Devolva-nos a inocência!

Estamos muito chapados

Cansados

Em chamas e cinzas! recolham! as cinzas do que nos restou.

Já fomos crianças

do novo ao antigo

Morte! Ah!                              

Deitada ao meu lado            seu corpo brilhante!

Sua pele pálida

Pulsante

Vibra!

Vibra!

Víbora!

Seu cabelo perfumado e seu doce sorriso gelado

Me desviam de seu veneno agradável




Em nossas pupilas

abismos sombrios.               Universo secreto.                  

E vai deslizando             por suas veias monumentais

O que dizem esses hieróglifos?

Você vem comigo?

Eu sou o longo rio

até o fim                                    pela crista da onda 

Eu sou o deserto

Atravessamos

até o eterno.


S.E - N.P.

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