quarta-feira, 23 de agosto de 2023

O homem do guarda-chuva

 Por Fabio da Silva Barbosa

 

Estava sendo açoitado por rajadas de ventos que traziam um verdadeiro enxame de gotas de chuva que mais pareciam bolas de sinuca. E tudo que podia fazer era tentar seguir em frente, vencendo cada passo naquele planeta inundado. Ratazanas nadavam como nunca nas correntezas que alagavam o meio fio, também conhecido como cordão da calçada. Enquanto tentava driblar cada obstáculo, precisava manter o guarda-chuva seguro. Já tinha virado do lado ao contrário e não o protegia de nada. O vento mudava de direção, tentando a todo custo arrancar o guarda-chuva daquela mão que segurava firme, como quem segura o último copo de vinho vagabundo da noite. Mas por que enfim fazia isso? Além da coisa não estar resolvendo, ainda se tornava mais um problema. Soltou o guarda-chuva no ar e viu o vento levando a coisa, enquanto a partia em pequenos pedaços. Daí ele pensou em como nos apegamos a coisas que deixaram de fazer sentido e isso só dificulta ainda mais a caminhada. Agora estava livre! Cada vez mais molhado, mas livre!  

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