Ouro Preto
Quem esculpiu
Essa igreja
Não era cristão.
Chorou e ninguém viu,
Não foi por amor
Mas por escravidão.
Hoje cê diz
Que tem algo sombrio,
Que sente um arrepio
Por este lugar.
Mas esses sussurros
Não vêm do vento frio,
É o sangue deles
Que continua a clamar.
Em nome de Jesus
Proibiram religião de preto,
Mas não se arranca raiz
Firmada no coração.
Quem esculpiu essa cruz
Não era cristão,
E ninguém viu sua dor
Na escuridão.
A Melodia do Diabo
Sua melodia é tão linda
Que até parece santa...
Escorre pelos meus lábios vinho tinto,
E veneno pela minha garganta.
És misterioso e assustador,
Mas meu coração se fez forte na dor
E aprendeu a completar o macabro.
E no silêncio eu posso ouvir
A melodia do Diabo.
Rotina
A névoa baixa
De um dia
Sem glamour...
O céu cinzento.
A ameaça da chuva.
O cheiro de cigarro,
A fumaça da maconha,
A poeira preta do asfalto.
Aspiro...
O sorriso encardido
De um mendigo.
Sorrio de volta.
O cheiro de suor
Num ônibus lotado.
Fecho os olhos,
Sem dormir...
Estou cansada...
A minha vida
Está tão bagunçada.
Chego em casa
E ainda há tanto
Para fazer...
Não há descanso.
Mais um dia
Completamente igual
A todos os outros dias
Deste ano.
Mesmice.
Massa cinzenta.
Trânsito.
Vômito no chão...
Cansaço.
O ponto
Está quase vazio.
Entro no ônibus,
Há lugares de sobra.
Bom sinal.
Hoje nem tive tempo
De chorar no banheiro
No horário de almoço.
Fiz um poema
No ônibus,
Voltando para casa.
Sabe...
Queria não precisar
Trabalhar tão duro
Para ganhar tão pouco.
Mas há lugar
Para sentar no ônibus...
Amanhã será
Um novo dia
Igual a este...
Para fazer contato e conhecer mais sobre a obra desta profanadora voraz:
Obrigada, amigos. 🌹🫶🏾
ResponderEliminarNós é que agradecemos pelo excelente trabalho, poesias maravilhosas e performances estonteantes
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