Por Fabio da Silva Barbosa
Vivo
em um tempo onde se cultivam hábitos estranhos, naturalizando toda forma de
violência e repassando absurdos como se fizessem algum sentido. A ignorância, a
estupidez, a alienação e a apatia são servidas como vitaminas no café da manhã
de quem pode se dar ao luxo de tal refeição. A outra ponta é corroída pela
fome, a miséria e a completa falta de tudo que se pode imaginar. Florescem atos
de desespero, angústias e ódio extremo. Cada um adoecendo a sua maneira. As
pessoas que trabalharam o dia inteiro e querem ficar até mais tarde na rua
desfrutando do descanso e se seu momento de lazer, não têm permissão para
escolherem o melhor momento de ir para casa ou ficar um pouco mais. Existem
normas inflexíveis e arbitrárias, ordens inquestionáveis que dizem o exato minuto
em que devem se recolher. Não há escolha. Um pesado aparato repressivo é
deslocado até os pontos onde a vida noturna é mais efervescente e começam a
retirar as pessoas das ruas, tocando para casa como gado para o curral. “Vai
gado! Vai para seu curral! Amanhã tem de levantar cedo para trabalhar, gerar
lucro e enriquecer ainda mais o patrão.” Os que não moram perto, ainda têm de
ficar por um tempo que beira o infinito esperando o ônibus que muitas vezes não
passa mais naquela hora e não há outra forma de chegar em casa. E o rolo
compressor repressivo continua vindo pra cima, querendo intimidar e cumprindo
seu bizarro dever de manter a ordem. “Tudo tem de estar em ordem. Temos de
controlar as multidões para que continuem dóceis e submissas.” Os que estão no
interior dos bares podem ficar um pouco mais, apenas serão fotografados
constantemente, a distância, pelos agentes da maldita lei construída
cuidadosamente para manter a todos presos, mesmo aparentemente livres. Ninguém
está a salvo da terrível máquina de moer. Mas ainda piores somos nós que não
nos deixamos abater e continuamos de pé. Toda violência só aumenta nossa raiva e indignação. Ninguém é perguntado se pode ser
fotografado ou dá qualquer outro tipo de autorização. Eles dizem que estão
apenas fotografando os bares e não as pessoas que estão por toda a parte,
povoando todo o seu interior que muitas vezes tem a parte dianteira aberta. Mas
o argumento final é que isso tudo é para sua proteção. E olha que isso ocorre
em bairros mais movimentados e centrais. Imagina o que acontece nos bairros afastados
e periféricos, onde os moradores são mantidos isolados através da falta de
transporte púbico, transformando a área onde vive uma grande quantidade de
trabalhadores em um local de difícil trânsito e impossibilitando o acesso
dessas pessoas ao resto da cidade. Nestes locais, onde muitas vezes os direitos
mais básicos são negados, as denúncias sobre a brutalidade policial, torturas,
estupros e assassinatos não param de surgir. Os processos já se avolumam há
muito tempo, registrando um controle populacional brutal e perverso em cima de
uma fatia extremamente vulnerável da população. Poderíamos aqui também elencar
o extermínio dos indígenas, de trabalhadores do campo e da cidade, repressões
brutais a manifestações e até a centros culturais que tiveram livros de suas
bibliotecas apreendidos como provas. Mas tudo sempre é justificado pela ótica
capitalista. Esta ótica justificava a barbárie desde os tempos mais antigos, em
tempos de ditaduras declaradas e agora na pseudodemocracia.
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