domingo, 8 de setembro de 2024

Samuel da Costa e Clarisse da Costa - Dois grandes produtores de arte e cultura no Sul do Brasil

 Hoje trazemos um pouco destes dois que contribuem intensamente para nosso grupo de whats e já marcaram sua passagem também por outros espaços da EMNM



Hip Hop force
                                        
            O quão é sensível, às questões raciais, as questões de classes e as sub-culturas adjacentes, no bom e velho sul. Em um país, onde a maioria da população é descendente de pessoas que foram escravizadas e a negritude é sinônimo de pobreza. Junto da pobreza e a extrema pobreza, vem todo um arcabouço de mazelas. E aqui na fronteira sul, onde nós negros e negras, somos minoria numérica e de poder, o debate é mais que sufocado, aqui é anulado e silenciado por completo.
            Dito isto, vamos ao que não interessa ninguém, vamos direto ao localismo, ao atomista, no primeiro decénio do início do século XXI, quando uma tragédia aconteceu na minha cidade e vidas foram perdidas. Um desastre automobilístico, vitimando uma estrela em ascensão do RAP/Hip Hop, da fronteira norte, vitimando também, mais dois amigos próximos a minha pessoa, um do movimento estudantil e outro do movimento negro. E não vou e não quero, me aprofundar no sinistro, porque aqui o foco é outro, e deixo para mais tarde decorrer a tragédia. 
             O que fica, e ficou de fato, foi uma homenagem para as vítimas do desastre, uma homenagem que um bom amigo meu, me veio com a proposta, de fazermos um espetáculo de Rap, em uma favela-comunidade carente. Eu fiquei com a incumbência dar infraestrutura (comunicação social do evento e dar conta do palco e da aparelhagem de som) e o meu bom amigo superestrutura (agendar com do movimento do Hip Hop, de reunir o elenco, a gurizada local do Rap/Hip Hop). E avançamos um pouco mais na narrativa, com o espaço agendado, a data confirmada, divulgação realizada, elenco reunido e evento realizado para o bem e a para o mal. E não quero me estender aqui no evento e si e sim em um dos seus desdobramentos anteriores e posteriores. Os bastidores do início e no seu fim. 
E lá estava eu no parlamento local, praticando a luta de classes, e eis que surgiu na minha frente, uma querubina, uma assessora de alto calibre, que há época, mantinha uma revista local de arte e cultura. E lá vai eu fazer o meu social, perguntar se a revista poderia cobrir o evento, a criatura mítica, loura e de olhos verdes, disse que assim. Isso depois que eu expliquei os pormenores do evento de favelados, dando hora, local e os motivos do evento.
E assim ela me respondeu: — Olha, tenho um compromisso na capital, no mesmo dia, parto de noite, e como o evento é de dia, posso sim dar uma passada por lá! — Como o evento foi em uma favela perto da casa dela, da querubina, até ali a fala da semi-deusa estava coerente. Um pingo de esperança ficou suspenso no ar, pelo menos para mim, um mero mortal, um reles habitante do subsolo da sociedade estratificada. 
            Evento realizado, tudo certo, até quando tudo deu errado, com os seus percalços, tão comum, em eventos feitos sem patrocínios oficiais, feito na cara e da coragem e com pouco apoio institucional. Na clássica luta de raças/de classes/de gêneros, para os muitos ridículos da vida, lá estava eu de volta ao parlamento local, duas semanas depois. E por incrível que pareça, a querubina, editora-chefe da tal revista artística e cultural veio me procurar. Quedou do páramo, de lá dos andares superiores e veio ter comigo no lugar comum, no subsolo do populacho. E a nobre semideusa, trajada com o seu divinal uniforme branco, desceu de lá, das densas alturas e veio me procurar no subsolo, um pouco de contexto aqui, geralmente não é a casa grande que procura a senzala. E o que a magnânima querubina suprema, queria ter comigo afinal de contas? A sacrossanta querubina, falou de um calhau, na revista cultural e artística! Mas o que é um calhau afinal? Para os leigos, na área da comunicação social, calhau é um espaço em branco, um espaço vago em uma revista ou jornal, um encalhe, que na falta do que publicar, se coloca qualquer coisa, que esteja disponível. 
         Segundo a grandiosa semideusa, a querubina-mor de quatro costados, da assessoria de comunicação social do parlamento local, um grandioso festival de música pesada, feito lá nas álgidas e densas alturas. Lá no distante vale europeu, não mandou o texto dando conta da cobertura do grandiosíssimo evento. E o calhau me foi ofertado e eu teria um dia para mandar a matéria e as fotografias do evento de Rap/Hip Hop.
            E como trato de ridiculices da vida, aqui neste texto, eu respondi logo que a oferta era um calhau, a querubina um pouco constrangida, me disse que não era um calhau, era um espaço em branco a ser ocupado. Eu respondi, dizendo que levaria a oferta do calhau, para o povo favelado e preto. E com toda a paciência do mundo, disse que o povo preto e pobre, não tinha recebido bem a ausência da revista cultural e artística no evento. E falei para a querubina, que provavelmente, o povo local do Rap\Hip Hop, não aceitaria bem a oferta do calhau. Constrangimentos à parte, eu não levei a oferta ao povo do Rap\Hip Hop, somente para o meu parceiro, promotor do evento, que claro ficou um tanto indignado. É claro também, que a revista cultural e artística, não recebeu a matéria do evento na favela. E vida que segue!          
     
Fragmento do livro: Dos ridículos da vida. Texto de Samuel Da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.
Arte digital de Clarisse Comunicação Digital, que é designer gráfico, novelista, contista e cronista em Biguaçu, Santa Catarina.




Menina Perfeita
(Dedicado a Cleodete Pereira

Ela apareceu na minha vida 
como um diamante.
Ela tá numa fase
onde ser imperfeita
é a sua perfeição de ser.
Ela se olha no espelho 
com sorrisos 
e faz questão de viver.
Ela vive as suas ousadias,
não teme mais os seus fracassos,
não mede seus passos,
faz questão de voar. 
Pois ela nasceu para ser livre,
menina mulher, 
que com lágrimas e risos 
sabe vencer. 

Clarisse da Costa


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