Entre vivencias e saberes de rua
Tive vários momentos de agrura
Na infância passei pela experiência
De tortura mental na prisão igreja
Angustia, enclausuramento, martírio
Através de cantorias, mitos bíblicos
Filmes, leituras de cartilhas
Peça de teatro e escola bíblica
Lavagem cerebral, bagulho horrível
Docilidade e mutilação do cognitivo
Mas com as asas da imaginação
Eu sobrevoava os muros do templo cristão
Pensando em divertimento e alegria
Brincadeiras e aventuras na periferia
Mas quando me deparava com a realidade
Estava enclausurado nos muros e grades
Levando sermão de pastor e lideranças
De religiosos adestradores de crianças
Minha presença na igreja gerava tumultuo
Falava sem parar em meio ao culto
Arrumava confusão com frequência
Causando um incomodo na igreja
A minha desobediência indigesta
Tornava-se cada vez mais frenética
Não adiantava as surras e xingamentos
Até que num determinado momento
Minha mãe teve atitude e sapiência
Desistiu de me levar para a igreja
Aos poucos fui potencializando a rebeldia
Refletindo sem medo de punição divina
Se deus existe ele odeia a alegria
E ama os impetuosos punitivistas
REFRÃO;
Relatos de uma trajetória e vivencias
Pelos becos, vielas, escola e igrejas
Várias aprendizados que adquiri
Sem crenças em divindades sobrevivi
Sobreviver na periferia é traumático
Consumo de drogas, álcool desenfreado
Pobreza, desemprego, prostituição
Banalização da violência, sangue no chão
Truculência da polícia, proliferação do crime
Esgoto a céu aberto, barracos de maderite
Moradia insalubre, casebre, favelas
Frestas nas madeiras, chão de terra
Goteiras nas telhas escurecidas
Moveis com bolor, cheiro de fezes e urina
Desumanidade, violência extrema
Naturalizada nos bolsões de pobreza
As mazelas sociais, a vida turbulenta
Me fez entender que todas as igrejas
São fugas e refúgio de pessoas sofridas
Humilhadas pelo sistema capitalista
Percebi que o desespero, arrasta a rapa
Para biqueiras, bares e igrejas na quebrada
Enquanto os fies sofrem as mutilações mentais
Do catolicismo, espiritismo e pentecostais
Na tela da TV é exibido e ostentado
A esnobação dos ricos desgraçados
Pessoas de pele branca tipo nórdico
Em mansões, apartamentos luxuosos
Esbanjando comidas e bebidas
Felizes em praias paradisíacas
Observo as igrejas lotadas na quebrada
Com pessoas sofridas rezando para o nada
Tentando buscar alívio para seus aflitos
Enquanto a miséria dilacera os oprimidos
Eu reflito; se deus existe é explícito
Que ele odeia os pobres e ama os ricos
REFRÃO;
Relatos de uma trajetória e vivencias
Pelos becos, vielas, escola e igrejas
Várias aprendizados que adquiri
Sem crenças em divindades sobrevivi
Quem teve ou tem um pai alcoolista sabe
A violência que acarreta essa enfermidade
Fui alvo de um pai filho da puta
Bêbado desgraçado me batia com fúria
Para evitar os espancamentos e surras
Eu ficava o dia inteiro pelas ruas
Me socializava aos manos da quebra
Usando drogas pelos becos e vielas
Manos que tinham uma vida desgraçada
Problemas semelhantes ao que eu passava
Preenchíamos nossas neuroses e veneno
Baforando tíner e cola-de-sapateiro
Fazíamos pequenos furtos o dia inteiro
Batendo carteira de playboy no centro
E sempre agradecíamos ao pai celestial
Por conseguir ter exito na vida criminal
Nos tempos de escola igual na igreja
Odiava ficar preso naquela sala cheia
Sem ventilação, num calor da porra
Ficava afrontando a professora
As regras autoritárias da disciplina escolar
Não conseguia me docilizar e adestrar
O cantinho da reflexão era meu castigo
Olhando para a parede com crucifixo
Aquela imagem horripilante e horrorosa
De um Homem de olhos azuis e pela alva
Com sangue escorrendo todo fudido
Cabeça rasgada com coroa de espinho
Pês e mãos pregadas numa cruz, vai vendo
Esse martírio, pairava no meu pensamento
Se deus existe ele odeia a insubmissão
E ama o sadismo da opressão
REFRÃO;
Relatos de uma trajetória e vivencias
Pelos becos, vielas, escola e igrejas
Várias aprendizados que adquiri
Sem crenças em divindades sobrevivi