ERA UM DIA ASSIM.
P/ David Bowie.
Era um dia assim
Horas sem fim
Você não estava mais
Perto de mim
Até hoje não sei
O quanto chorei
Por você que nunca mais
Eu verei
Não posso mudar
O que está feito
Mas é difícil andar
De todo jeito
Deixa pra lá,
Nada vai mudar
E ao passado
Não posso voltar...
Gutemberg F. Loki. 10/01/22.
Visão de São Paulo à noite – Poema Antropófago sob Narcótico
Na esquina da rua São Luís uma procissão de mil pessoas
acende velas no meu crânio
há místicos falando bobagens ao coração das viúvas
e um silêncio de estrela partindo em vagão de luxo
fogo azul de gim e tapete colorindo a noite, amantes
chupando-se como raízes
Maldoror em taças de maré alta
na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida
a cidade com chaminés crescendo, anjos engraxates com sua gíria
feroz na plena alegria das praças, meninas esfarrapadas
definitivamente fantásticas
há uma floresta de cobras verdes nos olhos do meu amigo
a lua não se apoia em nada
eu não me apoio em nada
sou ponte de granito sobre rodas de garagens subalternas
teorias simples fervem minha mente enlouquecida
há bancos verdes aplicados no corpo das praças
há um sino que não toca
há anjos de Rilke dando o cu nos mictórios
reino-vertigem glorificado
espectros vibrando espasmos
beijos ecoando numa abóbada de reflexos
torneiras tossindo, locomotivas uivando, adolescentes roucos
enlouquecidos na primeira infância
os malandros jogam ioiô na porta do Abismo
eu vejo Brama sentado em flor de lótus
Cristo roubando a caixa dos milagres
Chet Baker ganindo na vitrola
eu sinto o choque de todos os fios saindo pelas portas
partidas do meu cérebro
eu vejo putos putas patacos torres chumbo chapas chopes
vitrinas homens mulheres pederastas e crianças cruzam-se e
abrem-se em mim como lua gás rua árvores lua medrosos repuxos
colisão na ponte cego dormindo na vitrina do horror
disparo-me como uma tômbola
a cabeça afundando-me na garganta
chove sobre mim a minha vida inteira, sufoco ardo flutuo-me
nas tripas, meu amor, eu carrego teu grito como um tesouro afundado
quisera derramar sobre ti todo meu epiciclo de centopeias libertas
ânsia fúria de janelas olhos bocas abertas, torvelins de vergonha,
correrias de maconha em piqueniques flutuantes
vespas passeando em voltas das minhas ânsias
meninos abandonados nus nas esquinas
angélicos vagabundos gritando entre as lojas e os templos
entre a solidão e o sangue, entre as colisões, o parto
e o Estrondo
Roberto Piva, em Paranoia [1963]
Filme fotográfico exposto ao Sol
Por Fabio da Silva Barbosa
A foto dos nossos tempos
um registro pesaroso
lamentável
nestes olhos moribundos
encravados nestas órbitas lamacentas
de tantos prantos
e a profundidade dos soluços
de corpos vazios se balançando
em decomposição
e mentes alienadas a guiar
cegos surdos e mudos
arrastando suas pernas
tomadas de doenças purulentas
e feridas infectas
O nada suspenso no ar
somente o vazio
alimentando a depressão abjeta
da rotina pestilenta
de uma vida precária
triste
no terrível cárcere existencial
Dance Baile
com a santa piromaníaca no altar
dizendo o que devemos fazer
Tanta submissão
Tanta obediência
Hipocrisia e mentira
Tudo cada vez mais limpinho e higiênico
Tanta farsa otimista
Tido mundo é bom
menos eu
pelo menos isso é bom
Por: Edu Planchêz Maçã Silattian
(poema escrito em setembro de 2021)
angustiado pra caralho, mas não estou lamentando,
vou orar, dar um rolé no sol, no parque,
precisando de um mas sem grana para comprar...
"tô angustiado hoje também", diz o comparsa diego el khouri
a casa tá infestada de primitivos,
não sei o que fazer nada tem funcionado,
penso na morte, no envelhecimento,
no bode da puta que pariu,
essa é a lenha que temos para queimar,
o feijão da felicidade não será queimado,
como diz um irmão do budismo,
"maldades, obstáculos, se preparem"
acho que preciso escrever e o farei...
carlos drummond fala de lutar com palavras,
e diz que é uma luta inglória,
mas no entanto é a nossa artilharia,
o que debulha a espiga, o fardo, os traumas,
o assunto em carne viva
on the road futuro
( por: edu planchêz )
dia de feira na praça seca,
domingo de sol e chuva,
eu indo para o japão que fica em madureira
pendido nas rabiolas das pipas,
nos rabos dos sardinhas de escamas verdes,
nos varais de coloridos panos,
nas cabeças das frutas e dos legumes,
no coreto dos muitos carnavais
não digo era, digo é,
o que é vivo na mente nunca passa,
nunca deixa de flutuar por entre as gerações,
por entre os coqueiros da minha verdade
a poesia é o maior dos amores,
a mulher, a mãe, o pai e o filho,
diego el khouri assinaria esses versos
aquele que assume a civilização
tal qual o faz bob dylan
para o sempre aflora setembros,
janeiros e dezembros
nos olhos dos que miram borboletas estrelas
passo a ponta do lápis de cor vermelha
nas linhas que vou rabiscando
com o corpo beat,
on the road futuro
Salve rapa, lançamento de mais uma sonoridade subversiva do COLETIVO "RAP QUE INFLAMA A INSURGENCIA", vídeo lyric do som; SAQUEADORES .... O RAP INSURGENTE E COMBATIVO CONTINUA VIVO
https://youtu.be/APTzBZ9mZow?si=eLt0Y6xBn9RIJXnW