sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Panorama Porrético

 

ERA UM DIA ASSIM.

P/ David Bowie.


Era um dia assim

Horas sem fim

Você não estava mais

Perto de mim


Até hoje não sei

O quanto chorei

Por você que nunca mais

Eu verei


Não posso mudar

O que está feito

Mas é difícil andar

De todo jeito


Deixa pra lá,

Nada vai mudar

E ao passado

Não posso voltar...

Gutemberg F. Loki. 10/01/22.




Visão de São Paulo à noite – Poema Antropófago sob Narcótico


Na esquina da rua São Luís uma procissão de mil pessoas

          acende velas no meu crânio

há místicos falando bobagens ao coração das viúvas

e um silêncio de estrela partindo em vagão de luxo

fogo azul de gim e tapete colorindo a noite, amantes

          chupando-se como raízes


Maldoror em taças de maré alta

na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida

a cidade com chaminés crescendo, anjos engraxates com sua gíria

          feroz na plena alegria das praças, meninas esfarrapadas

          definitivamente fantásticas

há uma floresta de cobras verdes nos olhos do meu amigo

a lua não se apoia em nada

eu não me apoio em nada


sou ponte de granito sobre rodas de garagens subalternas

teorias simples fervem minha mente enlouquecida

há bancos verdes aplicados no corpo das praças

há um sino que não toca

há anjos de Rilke dando o cu nos mictórios

reino-vertigem glorificado

espectros vibrando espasmos


beijos ecoando numa abóbada de reflexos

torneiras tossindo, locomotivas uivando, adolescentes roucos

         enlouquecidos na primeira infância

os malandros jogam ioiô na porta do Abismo

eu vejo Brama sentado em flor de lótus

Cristo roubando a caixa dos milagres

Chet Baker ganindo na vitrola


eu sinto o choque de todos os fios saindo pelas portas

         partidas do meu cérebro

eu vejo putos putas patacos torres chumbo chapas chopes

         vitrinas homens mulheres pederastas e crianças cruzam-se e

         abrem-se em mim como lua gás rua árvores lua medrosos repuxos

         colisão na ponte cego dormindo na vitrina do horror

disparo-me como uma tômbola

a cabeça afundando-me na garganta


chove sobre mim a minha vida inteira, sufoco ardo flutuo-me

nas tripas, meu amor, eu carrego teu grito como um tesouro afundado

quisera derramar sobre ti todo meu epiciclo de centopeias libertas

ânsia fúria de janelas olhos bocas abertas, torvelins de vergonha,

         correrias de maconha em piqueniques flutuantes

vespas passeando em voltas das minhas ânsias

meninos abandonados nus nas esquinas

angélicos vagabundos gritando entre as lojas e os templos

         entre a solidão e o sangue, entre as colisões, o parto

         e o Estrondo


Roberto Piva, em Paranoia [1963]




Filme fotográfico exposto ao Sol

Por Fabio da Silva Barbosa


A foto dos nossos tempos

um registro pesaroso

lamentável

nestes olhos moribundos

encravados nestas órbitas lamacentas

de tantos prantos

e a profundidade dos soluços

de corpos vazios se balançando

em decomposição

e mentes alienadas a guiar

cegos surdos e mudos

arrastando suas pernas 

tomadas de doenças purulentas

e feridas infectas

O nada suspenso no ar

somente o vazio

alimentando a depressão abjeta

da rotina pestilenta

de uma vida precária

triste

no terrível cárcere existencial 

Dance Baile

com a santa piromaníaca no altar 

dizendo o que devemos fazer

Tanta submissão

Tanta obediência

Hipocrisia e mentira

Tudo cada vez mais limpinho e higiênico

Tanta farsa otimista

Tido mundo é bom

menos eu

pelo menos isso é bom


Por: Edu Planchêz Maçã Silattian


(poema escrito em setembro de 2021)

 angustiado pra caralho, mas não estou lamentando, 

vou orar, dar um rolé no sol, no parque, 

precisando de um mas sem grana para comprar...


"tô angustiado hoje também", diz o comparsa diego el khouri


a casa tá infestada de primitivos, 

não sei o que fazer nada tem funcionado, 

penso na morte, no envelhecimento, 

no bode da puta que pariu,

essa é a lenha que temos para queimar, 

o feijão da felicidade não será queimado,

como diz um irmão do budismo, 

"maldades, obstáculos, se preparem"

acho que preciso escrever e o farei... 

carlos drummond fala de lutar com palavras, 

e diz que é uma luta inglória, 

mas no entanto é a nossa artilharia, 

o que debulha a espiga, o fardo, os traumas,

o assunto em carne viva



on the road futuro


 ( por: edu planchêz )


dia de feira na praça seca, 

domingo de sol e chuva, 

eu indo para o japão que fica em madureira

pendido nas rabiolas das pipas,

nos rabos dos sardinhas de escamas verdes,

nos varais de coloridos panos,

nas cabeças das frutas e dos legumes,

no coreto dos muitos carnavais


não digo era, digo é,

o que é vivo na mente nunca passa,

nunca deixa de flutuar por entre as gerações,

por entre os coqueiros da minha verdade


a poesia é o maior dos amores,

a mulher, a mãe, o pai e o filho,

diego el khouri assinaria esses versos


aquele que assume a civilização

tal qual o faz bob dylan

para o sempre aflora setembros,

janeiros e dezembros

nos olhos dos que miram borboletas estrelas


passo a ponta do lápis de cor vermelha 

nas linhas que vou rabiscando

com o corpo beat,

on the road futuro



Salve rapa, lançamento de mais uma sonoridade subversiva do  COLETIVO "RAP QUE INFLAMA A INSURGENCIA", vídeo lyric do som; SAQUEADORES .... O RAP INSURGENTE E COMBATIVO CONTINUA VIVO

  https://youtu.be/APTzBZ9mZow?si=eLt0Y6xBn9RIJXnW

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