Por: Gutemberg F. Loki.
Ainda me lembro, quando a família Freitas veio morar na nossa rua. Eu tinha uns 11 anos e eu era a garota esquisita da rua até então. Não era a toa, usava óculos, cabelos presos, roupas compridas, era gordinha e frequentava a Igreja Pentecostal Ungidos por Deus. E pensei que tudo mudaria, quando vi a filha dos Freitas, uma garota magra, cabelos lisos pretos e compridos e com aparelho nos dentes, mas os garotos da rua e as outras meninas, gostaram dela. Os Freitas, usavam camisas pretas com estampas de roqueiros malucos e até demônios! A música que ouviam, era uma coisa bem esquisita, demoníaca e barulhenta.
A filha dos Freitas, logo de início, tentou fazer amizade comigo, foi simpática e disse que seu nome era Amanda e eu me apresentei, "Sou a Carolina, mas pode me chamar de Carol.". Até gostei dela a princípio, mas meu pai era o pastor da nossa igreja e disse que não era bom ter uma filha amiga de gente adoradora do diabo! Entendi a mensagem e não voltei a falar com a Amanda.
Ela era mais ou menos, da minha idade e quando já estava com 15 anos, parou de utilizar o aparelho nos dentes e começou a pegar mais corpo e os garotos estavam todos, sempre babando por ela. Aquela satanista era mesmo uma gata! Eu não conseguia entender o que sentia por ela, era raiva? Inveja? Desejo? Amor? Eram tantas perguntas com apenas uma resposta: Pecado! Aquela garota fazia o pecado arder dentro de mim com seu calor infernal!
Estudávamos no mesmo colégio, mas não éramos da mesma classe. Ela estava mais adiantada do que eu, era bem mais inteligente e descolada. Eu perdi dois anos. Saí reprovada em matérias bobas como História, Português, Educação Artística e Educação Física.
Mas vê-la sempre, mexia muito comigo, era um horror eu deseja-la e ter que ficar sentindo uma culpa enorme, pois sabia que algo assim, era um pecado enorme também! Ah, ela era linda demais e um dia, eu não suportei mais! Não sei se foi coragem ou loucura, mas fui até a casa dela, bati na porta, sabia que ela estava sozinha e logo, ela abriu a porta da sala, sempre bonita e simpática! Estranhou a minha visita, mas perguntou se eu queria entrar. Eu disse que sim e entramos. Ela estava ouvindo uma música demoníaca, com um homem gritando feito um louco e perguntei o que era isso? Ela respondeu: "É Slayer! São ótimos, né?". A resposta dela não me serviu de nada, mas deu tempo de criar um pouco de coragem e dizer que eu precisava falar algo com ela e não sei como, me declarei! Falei que a amava, mesmo sendo ela, uma roqueira satanista! Ela riu, debochou do meu sentimento. Disse que não havia como retribuir esse amor, pois não era um tipo de amor que ela gostava.
Eu sentia as lágrimas escorrerem quentes em meu rosto, abri o meu coração como nunca antes havia feito e fui rejeitada! Eu sentia vergonha! Vergonha e raiva! De repente, senti o meu amor virar um ódio e me possuir, peguei uma faca dentro da minha bolsa e entramos em luta corporal. Ela estava apavorada e era mais fraca, eu dei vários golpes de faca nela! Eu dizia que, se ela não fosse minha, não seria de mais ninguém! E a chamava de "Pecadora! Pecadora!" a cada apunhalada. Quando parei, estava coberta de sangue e levantei. Fui sair pela porta, mas os vizinhos ouviram os gritos e estavam do lado de fora. Me imobilizaram e a polícia não demorou a chegar. Fui presa. Estou presa. Condenada a mais de 30 anos. Os noticiários me chamaram de Monstra. Uma matéria num jornal dizia "A morte mora ao lado". E eu pergunto, por que não disseram, "O amor mora ao lado", se tudo que fiz, foi por amor?
Meu pai disse que eu me perdi, que o demônio tomou a minha alma e que depois de eu pagar a Lei dos homens, chegará um dia, que acertarei as contas com as Leis de Deus. Não ligo, vivo! Vivo e amo! Pois na cela ao lado, conheci meu novo amor, Samantha, loura e bonita, matou a família e veio pra cá, pra bem pertinho de mim! Um dia me declaro pra ela...
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